sexta-feira, 31 de maio de 2013

O rio da unicidade


O rio da unicidade revelou-se,
saciando desertos e terras abandonadas.
Se não nutrir seu coração com o amor de Deus,
Estará seco e sedento como aqueles desertos.

[atribuído ao Sheikh Sultan Bahu (1628-1691 E.C.), extraído de http://wahiduddin.net/sufi/sufi_poetry.htm#Uftade - tradução de Muhammad F.]

Gilbert Durand em seu indispensável O imagináio: ensaio acerca das ciências e da filosofia da imagem já utilizava da metáfora potamológica, argumentando em termos de bacias semânticas do imaginário, relatando os movimentos de mudança dos regimes imagéticos e apontando no sentido da confluência das imagens. Aparentemente, o caso é o mesmo com a questão do amor de Deus: ele une os sujeitos em um rio, independentemente de sua afluência. 

quinta-feira, 30 de maio de 2013

Ditos esclarecedores da relação entre Muhammad e Jesus

Miniatura Persa de Jesus durante o Sermão da Montanha - extraído de http://www.eslam.de/begriffe/m/messias.htm

Nos primeiros ditos narrados nos capítulos de Muslim sobre os méritos de Jesus Cristo, Muhammad declara-se como o mais próximo e aparentado a Jesus entre toda a humanidade, tanto nesta vida quanto na próxima: "Profetas são irmãos na fé, tendo diferentes mães. A religião, entretanto, é uma só e não há Apóstolo entre nós (entre eu e Jesus Cristo)."

Elocuções paralelas podem ser encontradas em Bukhari  (Kitab al-abiya'), que acrescenta que para aquele que acredita em Jesus e então acredita em Muhammad, haverá uma recompensa dobrada.

De acordo com a lenda muçulmana, o Profeta instruiu seus Companheiros para guardarem um túmulo para Jesus, próximo a Muhammad, entre Abu Bakr e 'Umar, onde ele deveria ser enterrado juntamente com Muhammad, após sua volta à terra, e ressuscitaria com ele de uma sepultura na Ressurreição. Apesar deste dito estar de acordo com a ênfase da Suna na proximidade (espiritual) de Jesus e Muhammad, não está inclusa nas coleções de Bukhari e Muslim. Em fontes recentes, entretanto, ela aparece frequentemente. Que Jesus será enterrado pelos muçulmanos refere-se ao comentário do Qur'an por al-Tabari (morto em 923), que afirma que Jesus, em sua segunda vinda, "permaneceria na Terra tanto o quanto Deus quisesse - talvez por 40 anos. Então ele morreria e os muçulmanos rezariam sobre ele e o enterrariam". 

Tradições pertinentes à morte e sepultamento de Jesus após sua segunda vinda estão inclusas na popular coleção de Hadith Miskat al-Masabih, que foi iniciado no século XI por al-Baghawi e revisado no século XIV por al-Tibrizi. Com referências a Thirmidi, ele relata que "a descrição de Muhammad está escrita no Torah e também que Jesus, filho de Maria, será enterrado junto com ele. Abu Mawdud disse que um lugar para o túmulo restou na casa." 

Ele também inclui a seguinte fala, que é atribuída a Ibn al-Jauzi com referências ao Kitab al-wafa:
Jesus, filho de Maria, descerá para a terra, casará, terá filhos e permanecerá por quarenta anos, tempos após o qual ele morrerá e será enterrado juntamente comigo, em meu túmulo. Então Jesus, filho de Maria, e eu levantaremos da mesma sepultura entre Abu Bakr e 'Umar.
De acordo com o relato de Muhammad de sua viagem noturna e ascensão aos céus, Muhammad encontra Jesus no segundo ou terceiro céu, sendo exaltado, acima de Jesus, para o sétimo céu (cf. Muslim, Kitab al-iman e Bukhari, Kitab al-anbiya, assim como o seu Kitab bida' al halq e Kitab manaqib al-ansar).

[extraído de ODDBJøR, Leirvik. Images of Jesus Christ in Islam. Nova Iorque: Continuum, 2010. p.37-38. Extraído de http://books.google.com.br/books?hl=en&lr=&id=Gzd_I2AFswwC&oi=fnd&pg=PR5&dq=jesus+islamism&ots=l6BG-CsPV6&sig=MJW3PxXzLJI7xSnp0LFDYnsOcdY#v=onepage&q=jesus%20islamism&f=false; tradução para fins de divulgação e sem a transliteração dos termos árabes, por Muhammad F.]

quarta-feira, 29 de maio de 2013

Práticas Sufi: Muraqaba (IV)


Tipos de Muraqaba

Existem muitos tipos de muraqaba que são praticadas em várias escolas Sufi e em diferentes partes do mundo. Segue abaixo uma lista daquelas mais comumente praticadas.

Muraqabas de nível iniciante
1. Muraqaba da luz
São comumente utilizadas para iniciante, ou para a cura de diversas doenças:
- Violeta.
- Índigo.
- Azul.
- Turquesa.
- Verde.
- Amarelo.
- Laranja.
- Rosa.
- Vermelho.
2. Ihsan.
3. Noor (Luz Invisível).
4. Haatif-e-Ghabi (Sons inaudíveis do Cosmos).
5. Nomes de Deus - para adquirir familiaridade com os atributos de Deus.
6. Allah (nome próprio de Deus) - nível final da Muraqaba dos nomes de Deus.

Muraqabas de nível intermediário
1. Maot (موت, morte) - para adquirir familiaridade com a vida após a Morte.
2. Qalb (قلب, coração) - para adquirir familiaridade com o Coração Espiritual.
3. Wahdat (وحده, Unidade) - para adquirir familiaridade com a razão por trás da unidade cósmica, i.e. a Vontade de Deus.
4. La (لا, nada, "coisa nenhuma") - para adquirir familiaridade com a privação material, ou universo não-material.
    Adam (pré-existência) - próximo nível da Muraqba do Nada.
5. Fana (فناء, aniquilação) - Aniquilação do Si-mesmo, para adquirir familiaridade com o alpha e o omega do Universo.

Muraqabas de alto nível
1. Tasawwur-e-Sheikh (تصور الشيخ, mente focada no mestre) - para facilitar a transferência de conhecimento espiritual do mestre para o aprendiz.
2. Tasawwur-e-Rasool (تصور الرسول, mente focada no Profeta) - para facilitar a transferência de Faiz (conhecimento arcano-espiritual) do Profeta para o estudante. O enfoque da mente é feito sobre Muhammad.
3. Tasawwur-e-zat-e-llahi (تصور الذات الإلاهي, mente focada em Deus) - com o auxílio desta muraqaba, o estudante experiencia o Tajalli-e-Zaat de Deus.


Referências

(fim da tradução)

[extraído de http://en.wikipedia.org/w/index.php?title=Muraqaba&oldid=555642232 - tradução de Muhammad F.]

terça-feira, 28 de maio de 2013

Práticas Sufi: Muraqaba (III)


Gnose de Allah



Fanaa

(فناء, extinção, aniquilação) Através de vários estágios (maqamat) e experiências subjetivas (ahwal), o processo de absorção desenvolve-se até a completa aniquilação do Si-mesmo [self] (fanaa), fazendo com que a pessoa torne-se al-insanul-kamil, o "homem perfeito". É a desintegração da concepção estreita de  alguém sobre seu auto-conceito, o si-mesmo social e o intelecto limitado (sentindo-se como uma gota de água consciente de ser parte do Oceano). Este estágio também é chamado de Fanaa fit tawheed ("extinção com a unidade"), e de Fanaa fil Haq ("extinção na realidade").



Sair illalah

(سيرٌ الى الله, jornada rumo a Deus) Aqui, o indivíduo começa sua jornada espiritual na direção da realidade última do universo, i. e. Deus. Também chamado de Safr-e-Urooji.



Fana fillah

(فناء في الله, extinção do si-mesmo em Deus) Uma das importantes fases da experiência mística pela qual o viajante atinge a graça de Deus no caminho místico é o estágio de fana fi Alah, "extinção de si-mesmo em Deus". Esse é o estágio onda a pessoa extingue-se na vontade de Deus. É importante ressaltar que não se trata de incarnação ou união. Muito Sufis, enquanto passam por essa experiência, tem preferido viver em profundíssimo estado de silêncio, o qual transcende todas as formas e sons, e desfrutam de sua união com o amado.



- O mais alto estado de fanaa é alcançado quando inclusive a consciência de ter atingido o fanaa desaparece. É isso o que os Sufis chamam "morte da morte" (fana al-fana). O místico está agora envolvido na contemplação e na divina essência. 


- Uma vez que se trata de um estado de completa aniquilação do Si-mesmo carnal, absorção e intoxicação em Deus, o peregrino torna-se incapaz de participar nos assuntos mundanos, sendo levado a passar por outro estado conhecido como Fana al-fana (esquecimento da aniquilação), como um tipo de esquecimento da inconsciência. Se dois negativos formam um positivo, o peregrino neste estágio reconquista sua individualidade da forma que ela era quando começou sua jornada. A única diferença é de que, no início, ele era auto-consciente, mas, após repousar no Ser Divino, ele adquire esse tipo de individualidade que é a consciência de Deus ou absorção em Deus. Este estado é chamado de Baqa-bi-Allah - viver ou subsistir em Deus.

Sair min Allah
(سير من الله, jornada a partir de Deus) Aqui, a pessoa retorna à existência. Este estado também é chamado de Safr-e-Nuzooli. Ninguém pode unir-se efetivamente aO Supremo Criador; acreditar nisso é shirk [associar seres a Allah].O que efetivamente ocorre é que a consciência dessa pessoa sobre Allah aumenta tanto que ele esquece dele mesmo, ficando totalmente perdido na Sua magnificência.

Baqaa billah
(بقاء بالل, vida eterna em união com o Deus Criador) Este é o estado no qual o humano retorna à sua existência e Deus indica-o para guiar os demais. Este é o estado no qual o indivíduo é parte do mundo, mas de modo desinteressado de sua posição ou recompensas possíveis dele. Esse doutrina é abordada em Sahih Bukhari , que relata que Deus disse [trata-se de um hadith qudsi]:

As coisas mais amáveis pelas quais Meu escravo aproxima-se de Mim é o que lhe prescrevi; e Meus escravos continuam aproximando-se de Mim através da performance do Nawafil (rezando ou realizando feitos juntamente e além dos obrigatórios), até que Eu o ame; então Eu me torno a audição pela qual ele ouve, a visão pela qual ele vê, e sua mão com a qual ele segura, e as pernas com as quais anda.
Existe outro verso no Alcorão que é utilizado para explicar este conceito:
Estamos mais próximo dele do que sua jugular. (50:16)
Quando os Sufis saem do estado de Fana fillah e entram em Baqa billah, muitos deles produzem trabalhos de glória insuperável, especialmente nos campos da filosofia, literatura e música. Estes trabalhos coroaram a cultura de todo o mundo islâmico e inspiraram gerações de Sufis e não-Sufis. Como o grande poeta persa sufi, Hafez de Shiraz, o qual é lembrado como "a língua do invisível", disse séculos atrás: "Aquele cujo coração está vivo com o amor, nunca morre." Allah diz sobre essas pessoas no Alcorão "Não é, acaso, certo que os diletos de Deus jamais serão presas do temor, nem se atribularão?" [10:62 - extraído de http://www.islamreligion.com/pt/articles/406/viewall/]

(continua amanhã, Insh'Allah)

[extraído de http://en.wikipedia.org/w/index.php?title=Muraqaba&oldid=555642232 - tradução de Muhammad F.]

segunda-feira, 27 de maio de 2013

Práticas Sufi: Muraqaba (II)


Gnose do universo

Kashaf' / Ilhaam
Kashaf', ou Ilhaam (كشف/الهام, desvelar do conhecimento arcano), é o estágio pelo qual o sujeito começa a acessar a informação que maior parte das pessoas não estão aptas a observar. No começo, essa condição ocorrerá repentinamente sem controle. Com a prática, a mente torna-se tão energizada que ela pode apreender esse conhecimento pela vontade.

Shahood
(شهود, evidência) Quando o indivíduo consegue acessar quaisquer informações sobre qualquer evento / pessoa à sua vontade, tal condição é chamada Shahood. Tal estágio é amplamente categorizado de acordo com a ativação dos sentidos:
1. ver coisas em qualquer lugar do universo;
2. ouvir coisas em qualquer lugar do universo;
3. sentir o cheiro de qualquer coisa do universo;
4. tocar coisas em qualquer coisa do universo.

Fatah
(فتح, abertura, vitória) O ápice do Shahood chama-se Fatah. Neste estágio, não há mais a necessidade de fechar os olhos para meditar. Aqui a pessoa está livre tanto do tempo quanto do espaço. Ela pode ver / ouvir / degustar / tocar qualquer coisa que esteja presente em qualquer lugar do tempo e espaço.


(continua amanhã, Insh'Allah)

[extraído de http://en.wikipedia.org/w/index.php?title=Muraqaba&oldid=555642232 - tradução de Muhammad F.]

domingo, 26 de maio de 2013

Práticas Sufi: Muraqaba (I)


Muraqaba (do árabe مراقبة) é a palavra Sufi para meditação. Literalmente, é um termo árabe que significa "guardar / vigiar", "cuidar", ou "observar". A implicação é de que, com a meditação, alguém guarde ou cuide de seu coração espiritual (ou alma) e adquire conhecimento sobre ele, seu ambiente e seu criador.

Estágios de Muraqaba
Abaixo seguem as maqamat (مقامات, estágios) os quais os sufis amplamente categorizaram sua jornada à ascensão. Essa é uma categorização arbitrária e cada nível é geralmente dividido em vários sub-níveis. Durante o processo de iluminação, alguns estágios podem emergir ou sobrepor ao outro.

Ghanood (sonolência)
Este é o estágio inicial da meditação. Quando o indivíduo começa a meditar, entra em um estágio de sonolência, ou mesmo adormece. Com o passar do tempo, chega a um estágio entre o sono e o estado desperto; deste modo, ele lembra-se de ter visto algo, mas não especificamente o que.

Adraak
(إدراك, cognição) Com a prática contínua da meditação, a sonolência da meditação diminui. Quando a mente consciente não está suprimida pelo sono e está apta a focar, o sujeito pode receber o conhecimento espiritual de sua mente subconsciente. Neste estágio, torna-se incapaz de  ver ou ouvir qualquer coisa, mas é apto a ter percepções.

Warood
(ورود, começo, chegada) Quando a adraak (experiência) torna-se profunda, ela é exibida como visão. O estágio de warood começa quando a concentração mental sustenta-se e a sonolência é mínima. Assim que a mente é focada, o olho espirital é ativado. A mente consciente não está acostumada a enxergar através do olho espiritual, então a concentração oscila. Gradualmente, a mente acostuma-se a esse tipo de visão e o foco mental sustenta-se. Com a prática, as visões / experiências tornam-se tão profundas que a pessoa começa a considerar-se parte da experiência e não somente um observador...

(continua amanhã, Insh'Allah)

[extraído de http://en.wikipedia.org/w/index.php?title=Muraqaba&oldid=555642232 - tradução de Muhammad F.]

sábado, 25 de maio de 2013

Baraka


Que a paz esteja convosco.

Meus caros, gostaria de indicar o "documentário" Baraka. Baraka significa "benção", simplesmente.

O filme, dirigido por Ron Fricke, é extremamente didático em mostrar o quanto nossa vida, nossa organização, vem de certo modo corrompendo o mundo. Ao visualizarmos os ritmos da Natureza e de seus aspectos sagrados, podemos apreender o quanto o Homem vem construindo através de culturas tradicionais... bem como destruindo, através de uma falta de sentido. A própria Ciência é algo maravilhoso; entretanto, aplicada sem uma leitura caridosa da realidade, auxilia na degradação do Homem e do seu planeta.

A pluralidade de modos de viver também é retratada, mostrando que as diversas manifestações humanas contém maravilhas, horrores e esperanças. Talvez, viver e experimentar a Vida seja um dos principais relatos que Baraka nos traz. Passando por diferentes lugares do Mundo, por todos os seus continentes, não se limita relatar somente esse mundo, mas parte do mundus imaginalis, de seus aspectos exotéricos e do envolvimento humano com ele.

... tratando-se de um filme não-verbal, acho que escrevi demais. De todo modo, indico principalmente para aqueles que não conhecem o filme. Para os que conhecem, sugiro que vejam pelo menos uma vez por ano: como todo bom livro, vale a pena ser revisitado. Que a Paz esteja conosco.

Aviso: este filme contém algumas cenas muito fortes, principalmente nos momentos finais do filme.

Veja abaixo o vídeo completo:


sexta-feira, 24 de maio de 2013

Observações: cristianismo e Jesus


Que a paz, as bençãos e a misericórdia de Deus estejam convosco.

Irmãos, certo dia, me questionaram em meu trabalho sobre minha visão do cristianismo: como entendia, o que achava, qual era sua importância, o porque de eu não ser cristão, etc...

Lembro que surpreendi as pessoas. Lembro de tê-las informado de que era meu ponto de vista, não o ponto de vista de todo muçulmano, tampouco o ponto de vista de alguns cristãos.

Me considero um tipo de cristão. Sim, aceito a missão para a qual Jesus veio, acredito em sua segunda vinda, desejo que as pessoas tomem contato com suas palavras e com a Palavra que veio com ele, dele, nele. Jesus foi um exemplo para a humanidade, um excelente homem, uma criatura de Deus sem igual - apesar de colocá-lo no mesmo nível que todos os demais Profetas.

Lembro de ter defendido o cristianismo, lembrando que as pessoas costumam atacar os membros da Igreja (católica ou protestante e suas variações), mas que Jesus era inatacável.

Defendi também que seus ensinamentos fornecem bases sólidas para uma vida digna e para o conhecimento da Verdade, que seus ensinamentos ainda são atuais, apesar de considerados por alguns como coisas dos passado e que deveriam ser atualizados. Algumas coisas, meus caros, nunca precisarão mudar; ou mudarão somente com muito desgaste. Continuamos usando facas para cortas as coisas desde que vivíamos nas cavernas, enfim...

... e disse que não era cristão somente, mas que era muito mais que isso: não circunscrevia minha crença e nem meu coração em uma ideologia limitada pelos homens, mas procurava exercer meu dever de conhecer a Realidade sobre uma ótica ampla. Questionei se Jesus era cristão, se Noé era cristão, se Adão era cristão... Pois, eram islâmicos - no sentido que defendi anteriormente -, eram muçulmanos. Pois, não rezo para Jesus, mas sigo o exemplo de Jesus: me ajoelho para Quem ele se ajoelhava...

quinta-feira, 23 de maio de 2013

Uma Origem


Os segundos, as horas, dias, semanas e meses e várias estações originam-se de Um Sol; Oh, Nanak, do mesmo modo, as muitas formas [religiosas] originaram-se do Criador.

[extraído de http://www.kpmthai.org/jboard/?p=detail&code=shortterm&id=223&page=4. Tradução de Muhammad F.]

quarta-feira, 22 de maio de 2013

terça-feira, 21 de maio de 2013

Onde Ele está


Eu procurei por Deus. Visitei um templo, mas não encontrei-O lá. Então segui para uma Igreja, mas não pude encontrá-Lo lá. Então entrei em uma mesquita, e também não O encontrei nela. Finalmente, olhei em meu coração e lá estava Ele.

[Texto atribuído a Rumi, extraído de http://www.islamproject.org/muhammad/muhammad_bio_muslims.htm. Tradução (e adaptação) de Muhammad F.]

segunda-feira, 20 de maio de 2013

Como as contas de um Tasbih


Que a paz, as bençãos e a misericórdia de Deus estejam convosco, do passado até o Dia do Juízo Final.

Não existe religião além do Islam. Nenhuma religião é possível senão o Islam. Digo isso pois entendo que o nome dessa religião significa "submissão", "paz", "obediência"; submissão e obediência à Vontade de Deus, Paz em sentido absoluto. Me questiono: é possível não ser submisso à Vontade de Deus? É possível desobedecer os desígnios divinos?

Muitos dirão que sim, que isso é uma decisão que o ser humano possui, ao basearem-se na questão do livre-arbítrio e da vontade humana. Certo, concordo que temos uma margem de manobra em relação a nossa vontade. O mesmo é válido para a Vontade de Deus? Deus pode o que quer, baste lhe dizer "Seja" e algo passa a ser. Não há escapatória em relação à Sua Vontade.

Como que podemos, então, acusar-nos uns aos outros de seguirmos algo que não leva a Deus? Não conhecemos o que se passa no coração uns dos outros. Temos, então, dois aspectos da realidade: o aparente (Zahir) e o interno (Batin). Como posso julgar que uma pessoa, seguindo uma religião diferentes, está equivocada quando o que tenho para observar são seus aspectos externos? O que há de interno, o que há em seu coração e o que está escondido como intenção por trás de suas ações: são todos fatores que não apreendo com a mesma facilidade.

Tal é o motivo por me irritar com os que dizem "Você já está salvo?" ou ainda "Você sabe que só existe uma religião verdadeira?" ou ainda "Você já aceitou Jesus?".

"Você já está salvo?" - essa é uma pergunta extremamente capciosa. O Dia do Juízo ainda não chegou. Minha salvação não está garantida, nem a sua, nem a de ninguém, excetuando-se a dos Profetas e de alguns poucos homens. O sujeito que acredita que reconhece quando alguém está salvo nada mais faz do que clamar ter o conhecimento que só cabe a Deus; pior ainda, quando considera que somente sua comunidade, a dos praticantes da mesma fé que professa, estará salva. Ora, Deus enviou milhares de mensageiros para a Humanidade. Toda a Humanidade tem a possibilidade de engendrar o bem e disseminar o amor. Seria uma pretensão imensa usurpar o Conhecimento de Deus. Essa manifestação externa, a do julgamento, deveria ser rejeitada em busca de uma aceitação interna, a da postura religiosa, quando lidamos com pessoas de uma religião diferente da nossa.

"Você sabe que só existe uma religião verdadeira?" - essa é uma pergunta que permite diferentes e divergentes respostas. Na verdade, acredito que existe uma única religião verdadeira e que é impossível viver fora dela (me perdoem os que não seguem nenhuma caminho): essa religião é o Islam. Ora, considero que um judeu pode ser islâmico, submetendo sua vontade à Vontade de Deus. Considero que um cristão pode ser islâmico, um budista, um umbandista, um hinduísta: a roupagem externa varia, mas a postura interna muitas vezes se encontra. No fim, mesmo não querendo ser, somos todos islâmicos, submisso à Vontade Divina. Assim, defendo os muçulmanos, pois são todos os humanos que existem. Concordando com isso ou não, pouco me importa, espero que compreendam esse raciocínio. Não digo que existem religiões falsas; incompletas podem existir (como as pseudo-religiões e os exoterismos de pacotilha). Percebam: minha afirmação é não existem religiões falsas, mas existe somente uma que é a verdadeira. Tenho aqui um dos princípios de meu respeito por todas as diferentes manifestações do sagrado.

"Você já aceitou Jesus?" - essa é uma questão que sofremos aqui no Brasil, constantemente, pelas pessoas que se julgam esclarecidas. Ora, Jesus não pediu aceitação dos homens que ressuscitou, nem dos homens que curou; apenas informou qual era sua missão. Aceitar Jesus não deveria ser um desafio: seus exemplos de vida são excelentes, sua trajetória é marcante. Divergimos, irmãos cristãos, em relação a algumas interpretações da vida desse grandioso homem? Sim. E agora, por que não continuarmos seguindo seu exemplo de paciência e virtude? Tenho a impressão que Jesus daria as mãos para qualquer pessoa nesse mundo, que sua humildade seria avessa a toda arrogância. Aceitei Jesus sim, do meu jeito. Assim como aceito muitas coisas. Claro, Jesus é extremamente diferente do restante das pessoas. Sugiro, somente, que não pense que sua aceitação de Jesus é a única possível.

Enfim, acredito que estamos todos conectados. Parece ser o Desejo de Deus que sejamos diversos e que vivamos juntos. Cada qual no seu lugar, separado, mas conectado; unido, mas ainda mantendo suas diferenças. Como as contas de um Tasbih, ou de um terço: cada uma ocupando seu espaço, mas ligadas pelo mesmo fio.

domingo, 19 de maio de 2013

Jihad, ou "luta sagrada" (parte II)



[trecho extraído de AZEVEDO, Mateus Soares de. Iniciação ao Islã e sufismo. Rio de Janeiro: Record, 1994. p.37]

Para o sufi, o místico do Islã, a jihad assume antes de mais nada este segundo aspecto, de combate contra as paixões, vícios e limitações do próprio ego. Nesta luta, sobretudo contra o orgulho e o egoísmo, - "mãe de todos os vícios" - , mas também contra a inveja, a gulodice, a luxúria, a cólera e a preguiça, o místico busca opor a humildade, a generosidade, a castidade, a caridade, a temperança, a paciência e a diligência.

Quanto à "pequena" jihad, além de ser secundária em relação à "grande", ela significa em primeiro lugar, como dissemos anteriormente, esforço ou empenho na causa de Deus. A jihad exterior exclui a luta por uma causa mundana, por exemplo. Ela só é aceita se tiver em vista a manutenção ou a conquista da paz e para repelir forças contrárias à justiça e à verdade, para que o mundo não seja tomado, como diz o Corão na surata (capítulo 2), pelo caos.

Se o verdadeiro objetivo da luta é a glória pessoa, ou a obtenção de riquezas, ou o simples ódio contra outro povo, não se trata de jihad. Para ser legítima, segundo o Islã, a "pequena guerra santa" deve implicar no combatente o amor de Deus e da religião.

(fim do trecho)

Assalam alaikum. Ora, irmãos, eu não conseguiria sintetizar com essa maestria uma explicação tão sintética sobre jihad. Entretanto, gostaria de reforçar essa questão de batalhar somente pelo amor de Deus e da religião. Tal argumento vem alimentando os desejos de violência de muitas pessoas; me parece que a batalha contra as pessoas é algo recorrente em nossa História. O que devemos fazer, como diria a personagem de um jogo de computador (!), é iluminar o inimigo; instruir as pessoas para a Paz e para a misericórdia parece ser a finalidade da batalha, ou deveria ser. Iluminar o inimigo é algo que faremos somente quando nós estivermos iluminados. Como alguns ramos do budismo ensinam, só conseguiremos isso unidos, juntos, através do Grande Veículo. Façamos a paz. Assim, iluminaremos uns aos outros.

sábado, 18 de maio de 2013

Jihad, ou "luta sagrada" (parte I)



[trecho extraído de AZEVEDO, Mateus Soares de. Iniciação ao Islã e sufismo. Rio de Janeiro: Record, 1994. p.37]

Um dos pontos que mais suscita discussões quando se fala do Islã é a jihad, termo usualmente traduzido por "guerra santa" (...).


Considerado por alguns autores o "sexto pilar" do Islã, seu significado original na verdade é "esforço" ou "emprenho" - a guerra sendo apenas uma de suas modalidades. Como aparece no Corão, o termo autoriza tanto uma interpretação exterior e militar como interior e espiritual. Há de fato um conhecido hadith (dito sagrado) segundo o qual o Profeta declarou, ao recepcionar os muçulmanos que retornavam de uma expedição militar:


"Vós voltastes da pequena guerra santa, e agora tendes pela frente a grande guerra santa (jihad al akbar)." Quando seus companheiros lhe perguntaram o que era aquela grande guerra, o Profeta respondeu que se tratava da luta puramente interior, espiritual, que tem lugar na alma de cada um.

(continua na próxima postagem)

Em nome de Deus, o Clemente, o Misericordioso.

Recentemente, pude encontrar esse livro na biblioteca municipal. Já conhecia o autor de outros livros (Men of a single book e A inteligência da fé). De uma sensibilidade extrema e grande conhecimento, sua consideração sobre o jihad é extremamente didática. Espero que aprecie sua explicação sobre; continua amanhã, Insh'Allah.

sexta-feira, 17 de maio de 2013

Yoga e Islam



Rajaque Rahman, um muçulmano praticante, fala como interpretações distorcidas do que é permitido e do que é proibido no Islam está deixando o mundo muçulmano exitante em tirar vantagem de práticas terapêuticas universais como o yoga e a meditação.

Mesmo tentando convencer um grupo de idosos muçulmanos em Itanagar - a capital do estado indiano mais ao Oriente de Arunachal Pradesh - a dar uma chance ao yoga, pranayama e técnicas ancestrais indianas para a saúde e uma vida feliz, tal grupo segue serenamente para a Jumuah (oração congregacional de sexta-feira) na mesquita do bairro após o chamado para a oração. Seguindo-os até a mesquita, percebi que um senhor, o mais eloquente e ortodoxo durante as discussões, dirigiu-se ao lado oposto. Quando questionei porque ele não seguiria para a oração, fiquei severamente atordoado por sua inocente, mas distorcida, lógica: "Eu não posso ir à mesquita por ter que passar próximo a vendas que abatem e vendem carne de porco para chegar até lá. Você sabe, o Islam proíbe terminantemente a carne suína. Eu preferiria perder a oração do que cometer o pecado de passar próximo à carne suína", ele argumentou.

Sabendo que o Islam proíbe comer carne suína, nunca havia me ocorrido que alguém poderia interpretar essa proibição de uma maneira tão míope. Ponderando sobre isso, percebi que esse tipo de interpretação "capenga" daquilo que é permitido ou proibido no Islam é o que estava deixando o mundo muçulmano hesitante em aproveitar-se de terapias universais como o yoga e a meditação.

Como o velho senhor,  muçulmanos ortodoxos temem que a prática do yoga corroam sua fé em Allah e no Islam. Uma vez que o Alcorão e as tradições do Profeta Muhammad não especificam se a prática do yoga é proibida, estes muçulmanos baseiam seus julgamentos em seus medos cultivados de que supostamente os elementos Hindus do yoga destruiriam a fé do muçulmano.

Enquanto muçulmano que vem praticando o yoga a mais de uma década e que experimentou a profundidade física e espiritual dos níveis do yoga, sinto que o melhor caminho para afastar esse medo é observar a filosofia Hindu sobre o yoga e entendermos como e onde contradizem os fundamentos islâmicos. Para isso, não me baseio em nada menos do que a autenticidade dos Sutras yogis de Maharishi Patanjali. Sri Sri Ravi Shankar, fundador do Art of living, forneceu-nos um lúcido e extenso comentário sobre os Sutras yogis.

Yoga significa simplesmente unir-se ao Si-mesmo. Os Sutras yogis iniciam clamando serem, eles próprios, uma enunciação dessa união, sendo a disciplina auto-imposta para atingir essa união o próprio yoga. Seria tal esforço para unir-se ao Si-mesmo algo contra o Islam? Definitivamente não, pois o Profeta Muhammad disse que "Aquele que conhece a Si-mesmo conhece seu Senhor." Assim, qualquer coisa que seja feita com o objetivo de atingir ao Senhor não pode ser temido como proibido pelo Islam. Ao invés disso, isso contaria como um ato meritório por honrar e seguir o caminho do Profeta. Assim, o yoga como um caminho espiritual é bem permitido no Islam. Dara Shikoh, o filho mais velho do Imperador da Índia, Shah Jahan, é bem conhecido por suas traduções para o persa do Yoga Vashishta e do Bhagavad Gita.

A melhor explicação do porque o yoga não é somente algo permitido mas, inclusive, um ato desejável para os muçulmanos, é encontrada no segundo sutra dos Sutras yogis: "Yogas Chitta Vritti Nirodhah.” Isto é, o yoga irá encerrar todas as modulações da mente. Cessar todas as atividades externas da mente e repousá-la sobre Allah é a meta última do Islam. Assim, qualquer ato feito para atingir tal objetivo não pode ser entendido como anti-islâmico.

De fato, ele representa a mais alta forma de ibaadat (oração). O Profeta Muhammad disse "Eu tenho meu tempo com Deus que nem mesmo Gabriel, que é puro espírito, é admitido." Assim, se a alma da oração é a completa absorção, um estado sem espaço para preocupações externas, o yoga teria o mesmo objetivo. Deste modo, praticar os asanas do yoga com a única intenção de atingir um estado sem pensamentos pelo qual alguém pode se conectar com Allah não fará de alguém um mal muçulmano.

Tais considerações deixam espaço para uma única concepção para os mullahs ortodoxos rejeitarem o yoga: sua origem nas crenças politeístas do Hinduísmo. Mas se yoga significa união, como poderia estar vinculado às crenças politeístas? De fato, o yoga afasta do politeísmo na medida em que conduz à Advaita, que está de acordo com a doutrina islâmica do tauhid (unicidade de Deus).

Só porque algo tem suas raízes no Hinduísmo, isso não torna algo proibido para os muçulmanos. Se fosse assim, muitas artes, línguas, alimentos e práticas culturais com raízes em outras religiões deveriam ser proibidas para os muçulmanos. Assim, se podemos aceitar comidas e músicas de outras culturas, por que não a sabedoria para unir-se com Si-mesmo?

[extraído de http://artoflivingsblog.com/yoga-the-highest-form-of-ibaadat-prayer-2/ - Tradução pra fins de divulgação por Muhammad F.; todos os Direitos da tradução cedidos para os autores do texto original.]

quinta-feira, 16 de maio de 2013

O Amigo



O Amor veio e espalhou-se como sangue em minhas veias e pele do eu,
Encheu-me com o Amigo e esvaziou-me do eu.
O Amigo apoderou-Se de todas as partes de minha existência,
Apenas resta meu nome, uma vez que tudo é Ele.

[Extraído de Chisthi Poetry, disponível em http://www.chishti.ru/chishti_poetry.htm - tradução de Muhammad F.]

quarta-feira, 15 de maio de 2013

Yoga e Islam?

Em nome de Deus, o Clemente, o Misericordioso.

Meus irmãos, estou bem apreensivo para uma tradução que pretendo postar no site sobre Yoga e Islam. Pelo que pesquisei, não existe nada em português sobre o assunto. Sei que poucas pessoas entram no site, mas se tiverem algum material para sugerir sobre o assunto, seria um prazer contar com sua contribuição. Muito obrigado. :-)

[atualizado em 19/05: o link para a tradução é http://lembrandodedeus.blogspot.com.br/2013/05/yoga-e-islam.html]

Debate sobre o véu


Que a paz, as bençãos e a misericórdia de Deus estejam convosco.

Irmãos, em uma postagem anterior, disse que não caberia a mim afirmar qual os deveres e obrigações da mulher. Continuo com essa postura. Assim, encontrei esse vídeo muito interessante que colocam duas mulheres com perspectivas diferentes sobre o uso do niqab, discutindo a questão da proibição francesa sob o traje religioso opcional da mulher muçulmana. O site de Hebah Ahmed, a irmã muçulmana, é http://muslimmatters.org/ e o site da outra irmã, Mona Elthaway, é http://www.monaeltahawy.com/. Espero que a discussão delas forneça bons elementos para vossa e para minha reflexão.


terça-feira, 14 de maio de 2013

Tao e João


No começo era o Tao. Tudo provém dele, tudo retorna a ele... Todo existente no Universo é uma expressão do Tao... do Tao nascem todas as coisas, e ele as nutre e as mantém. - Tao Te Ching, por volta de 6 séculos antes da Era Comum.

No começo era o Verbo e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. Ele estava no começo com Deus. Todas as coisas foram feitas através dele, e sem ele nada do que existe viria a ser. - O Evangelho de São João, primeiro século da Era Comum

[ extraído de http://sectuntomyself.blogspot.com.br/2011/05/spirituality-universality.html - Tradução de Muhammad F.]

segunda-feira, 13 de maio de 2013

Orgulho de ser fundamentalista


Em nome de Deus, o Clemente, o Misericordioso.

Seguir uma religião em seus fundamentos é o dever de todo religioso. Seguir a base de sua religião, aquilo que realmente faz dela uma arma contra a ignorância e a maldade, é um dever daquele que diz procurar a Palavra de Deus. Assim, gostaria de listar alguns pontos que me vem à mente quando percebo que sou um fundamentalista. Sim, sou um fundamentalista islâmico com o maior orgulho de sê-lo. Tenho certeza que muitos não concordarão que esse é o fundamento da minha religião, da minha fé, mas tenho certeza que são - ou não seguiria o Islam em meu coração.

Alguns pontos que destaco do meu fundamentalismo islâmico:

  • Um extremo respeito pelas diferentes manifestações humanas em sua pluralidade;
  • A obrigatoriedade de pensar no próximo como alguém dotado de razão e de conhecimentos que não possuo;
  • O pacto que faço comigo mesmo de não irritar ou agredir as pessoas;
  • O dever de sempre ter paciência e misericórdia com meus irmãos;
  • Uma compaixão que deve ser trabalhada cotidianamente;
  • Uma abertura para a razão e seus usos;
  • A consideração de que todos, por mais que discordem, possuem seu quinhão de razão;
  • A obrigação pela procura do conhecimento em suas mais diferentes formas e apresentações;
  • O pressuposto de que posso estar errado, uma vez que não passo de um ignorante;
  • A inclinação para perdoar as pessoas que me cometem algum malefício e de ajudar as pessoas sem se importar com o que fizeram, fazem ou que virão a fazer contanto que não prejudiquem alguém;
  • A defesa da liberdade de consciência alheia;
  • A recomendação pelo abrandamento de todas as penas, uma vez que as pessoas erram por ignorância;
  • A aceitação das pessoas que discordam necessariamente de mim.
Gostaria, sinceramente, que todos fossem extremamente fundamentalistas desse modo. O Islam veio libertar as pessoas de todos os modos de opressão. É uma pena que sob a bandeira do Islam, muitas formas de opressão tenham se manifestado. Acredito que o Islam, na verdade, indica que um mundo ideal na vida terrestre é possível: um mundo onde ateus, cristãos, judeus, hindus; negros, brancos, amarelos, pardos, vermelhos; árabes, asiáticos, africanos, europeus, americanos; heterossexuais, bissexuais, homossexuais, possam todos viver em Paz, contribuindo para o desenvolvimento mútuo em prol da união.

... gostaria de terminar com uma reflexão que fiz observando uma pichação, que dizia: "Todo poder para o povo". Não, todo o poder não deve ser do povo, nem da elite, nem de nenhum humano. Todo poder é de Deus: só Ele é digno do poder (numa visão ateísta, o poder não deve ser de ninguém). Enquanto os Homens distribuírem o poder uns para os outros, disputando e discutindo, teremos injustiças e incoerências. Somente quando abdicarmos do poder e percebermos que somos todos irmãos, sem ninguém superior a ninguém, independentemente de sua concepção de vida, que teremos o fim do poder terrestre e a vinda do Reino de Deus.

domingo, 12 de maio de 2013

Vá!


Existe um trabalho que está além do conhecimento; obtenha-o, vá!
Não trabalhe com as gemas, seja a mina; vá!
O coração é uma morada temporária; deixe-a e venha!
A alma é a morada final; descubra isso e vá!

[Extraído de Chisthi Poetry, disponível em http://www.chishti.ru/chishti_poetry.htm - tradução de Muhammad F.]

sábado, 11 de maio de 2013

Notas sobre tradução



Que a paz, as bençãos e misericórdia de Deus estejam convosco. Hoje, peço licença para expor um pouco de minha imensa ignorância e escrever algumas considerações sobre um ato admirável, exemplar, que tenho como ação de excelência: a tradução.

O ofício de traduzir deve ser ancestral como o próprio homem. Quando sujeitos de culturas diferentes se encontram e são mediadas, de algum modo, por um sujeito falante de ambas as línguas, temos o ato de tradução ocorrendo. A nobreza e o valor desse sujeito, procurando manter-se fidedigno ao conteúdo de uma mensagem, a preocupação de como tal mensagem será compreendida pelo interlocutor, fornecem parte da vertigem do ato de traduzir. É difícil e é arriscado, é como Umberto Eco afirma, em Quase a mesma coisa, uma negociação que se faz com o texto e entre os consumidores desse texto, afinal.

Negociar sentidos atribuídos aos objetos da linguagem. Lidar com homens e ideias. Lidar com a compreensão e atribuição de valor. Após o advento de uma cultura escrita massificada – podemos dizer que o livro é, talvez, um dos primeiros objetos industrializados (cf. Chartier em A aventura do livro) -, o ato de traduzir modificou-se: dessa vez, a tradução materializava-se em papel e tinta. Assim, não se traduzia qualquer coisa, mas uma cultura de tradução difundia-se. Na verdade, antes da imprensa havia essa difusão de uma cultura de tradução, com línguas sendo priorizadas como línguas de tradução (durante algum tempo e localmente na Europa, o latim; mais amplamente por um tempo maior que o latim, o árabe; mais recentemente o inglês). Temos então línguas de acesso, como o alemão, o persa, o russo, e línguas de tradução, como o francês, espanhol e árabe. Diferencio uma da outra por conta de que algumas línguas parecem servir melhor para que uma tradução seja difundida do que outras, sendo isso uma questão mais cultural do que técnica, enfim.

Esse é o caso contemporâneo do inglês: se a obra não foi escrita nessa língua, provavelmente será traduzida para ela. É o caso, por exemplo, da seerat de Ibn Ishaq, The life of Muhammad: a primeira tradução para uma língua ocidental foi para o inglês; praticamente, só temos acesso a esse livro nessa língua (me corrijam se estiver errado, por favor). É o caso das traduções que faço nesse site: meu conhecimento de árabe é pífio para que possa arriscar uma tradução direta. Arrisco, assim, a traduzir os textos que foram traduzidos – realizando as assim chamadas traduções de segunda mão.

Gostaria, nesse momento, de retomar algo que falei no começo do texto: que a tradução é um ato de excelência. Permitir que membros de culturas diversas entrem em contato, favorecer tal contato, parece ser um dever, uma obrigação das pessoas que procuram algum esclarecimento sobre o mundo. Abandonar um tanto do centrismo que somos envolvidos em nossos pensamentos parece ser um atributo do tradutor (ou que deveria ser), relativizando a possibilidade de acesso à Realidade como algo possível por parte de todos... As línguas formam identidades e nações (penso em Benedict Anderson e seu Comunidades imaginadas), mas possibilita também o contato entre estas. Enfim, gostaria de terminar essas digressões, que espero continuar caso fique satisfeito com meu texto, com uma citação do Alcorão Sagrado:


Ó humanos, em verdade, Nós vos criamos de macho e fêmea e vos dividimos em povos e tribos, para reconhecerdes uns aos outros. Sabei que o mais honrado, dentre vós, ante Deus, é o mais temente. Sabei que Deus é Sapientíssimo e está bem inteirado. (Alcorão, 49:13; extraído de http://www.ebooksbrasil.org/adobeebook/alcorao.pdf - tradução do professor Samir El Hayek)

É ordem de Deus conhecermos uns aos outros; assim, encerro por aqui esse texto indicando que existe, através da sabedoria tradicional, excelente indicativo para que façamos esse ato de conhecimento mútuo. Que a Paz esteja conosco.

[Em breve, e se Deus permitir, tratarei sobre a questão da "tradução" do Alcorão.]

P.S.: gostaria de indicar o excelente blog de Denise Bottman, http://naogostodeplagio.blogspot.com.br/.

Bibliografia:
ANDERSON, Benedict. Comunidades imaginadas: reflexões sobre a origem e a difusão do nacionalismo. São Paulo: Companhia das Letras, 2008.
BURKE, Peter e HSIA, R. Po-chia (orgs.). A tradução cultural nos primórdios da Europa Moderna. São Paulo: Editora UNESP, 2009.
CHARTIER, Roger. A aventura do livro: do leitor ao navegador; conversações com Jean Lebrun. São Paulo: UNESP/IMESP, 1999.
ECO, Umberto. Quase a mesma coisa: experiências de tradução. São Paulo: Record, 2007.

sexta-feira, 10 de maio de 2013

Ciência e o Islã - A linguagem da ciência

Estudo do eclipse lunar, por al-Biruni.

Que a paz, as benção e a misericórdia de Deus estejam convosco, irmãos e irmãs de fé e na humanidade.

Gostaria de sugerir-lhes o seguinte vídeo: Ciência e o Islã - A linguagem da ciência. Trata-se de um documentário da BBC muito interessante. Atualmente, o que assistimos nos territórios tidos como islâmicos (ou "islâmicos", melhor dizendo) é uma fuga de cérebros e outras barbáries contra o pensamento científico. Talvez seja esse o maior problema de uma cultura civilizacional que teve uma idade de trevas depois de uma idade de ouro - o que parece ser o contrário no Ocidente, apesar de que a ideia de que ainda vivemos nessa idade de ouro seja extremamente problemática.

Sem maiores delongas, algo que gostaria de antecipar ao documentário, ou caso resolva não assisti-lo, é a questão de que sob o Império Islâmico que tivemos uma introdução de uma ideia fundamental para nossa ciência contemporânea: a ideia de uma linguagem que unificasse pesquisadores e pesquisas, permitindo o intercâmbio de informações de modo a que as barreiras geográfico-culturais pudessem ser relativizadas em prol da busca de conhecimento. Os estudantes de primeira viagem indicarão o latim como primeira língua de tradução científica; na verdade, tal afirmação é válida se acreditarmos que somente a Europa é o mundo e se ignorarmos a língua árabe. Ao longo de todo Império, cientistas esforçavam-se por se comunicarem e dialogarem. Isso contribui enormemente para o avanço científico... É uma pena que não observemos tal postura em nossos contemporâneos muçulmanos, muito mais preocupados em manterem-se estagnados no tempo e no pensamento. De todo modo, as glórias de um passado deveriam ser a fantasia que nos permite vislumbrar as benesses de alguns pensamentos quando o fantasma do presente aprisiona a reflexão - seja dos muçulmanos ou dos não-muçulmanos.

Espero que gostem e divirtam-se com esse documentário! Obrigado e paz.


quinta-feira, 9 de maio de 2013

Afastamento e erros



Em nome de Deus,  o Clemente, o Misericordioso.

Meus caros irmãos e irmãs, leitores do blog: como podem perceber, alguns erros foram cometidos na escrita dos posts anteriores. Não tive tempo para arrumar as coisas e não tive condições de ter uma boa conexão com internet nos últimos dias. Peço desculpas por não corrigir. Agradeço a continuidade das leituras, mas peço paciência e compreensão. Recentemente, mudei de trabalho e ele está me exigindo muito. De verdade. Mais do que esperava. E as possibilidades de crescimento são boas. Não quero deixar o blog de lado; Deus queira que isso não seja necessário e meu esforço garanta a continuidade dele. Mas peço desculpas, de coração, por ferir vossos olhos com alguns erros injustificáveis.

Espero que estejam em paz e que a paz, as bençãos e misericórdia de Deus recaiam sobre todos nós. Muito obrigado pela compreensão.

Por favor, derrame sangue pela causa de Deus


Que a paz, as bençãos e a misericórdia de Deus estejam convosco, irmãos.

A muito tempo venho derramando meu sangue pela causa de Deus. Quando falo isso para alguém, geralmente o semblante fica pesado, a pessoa pensa que me refiro a algum tipo de matança ou guerra, que sou alguém belicoso ou intolerante.

Só posso dizer que derramar sangue pela causa de Deus é essencial. Doem sangue, irmãos. Isso é derramar sangue pela causa de Deus. Como disse anteriormente, Deus não precisa de nós; nós precisamos uns dos outros. Por mais que essa minha interpretação possa parecer errônea para alguns que são favoráveis à Jihad menor, sou favorável, integralmente, à Jihad maior (espero, se Deus me permitir, fazer um post diferenciando os tipos de Jihad).

Aqui, encontrará algumas orientações oficiais com orientações aos doadores de sangue: http://www.inca.gov.br/conteudo_view.asp?id=119

E aqui, uma postagem muito interessante sobre essa nobre ação: http://praesquecerobenedito.wordpress.com/2011/06/08/os-beneficios-de-doar-sangue/

Pra ajudar, alguns postos de coleta de sangue oferecem um lanchinho bem saboroso após a doação. Fica a dica pra uma boca-livre das mais bem-intencionadas possíveis. Ah, e se for doar sangue, aproveite e faça o cadastro como doador de medula! Que Deus nos abençoe.

quarta-feira, 8 de maio de 2013

Os cinco pilares


Da autoridade de Ibn Omar, o filho de Omar ibn Al-Khattab (que Deus esteja satisfeito com ambos), que disse: eu ouvi o Mensageiro de Deus dizer:
"O Islã foi construído sob cinco [pilares]: testemunhar que não há divindade senão Deus e que Muhammad é Seu mensageiro, realizar as orações, pagar o zakat, realizar a peregrinação à Casa e jejuar durante o Ramadã."
(extraído de http://www.40hadith.com/40hadith_en.htm - tradução de Muhammad F.)

Hipocrisia


Que a paz, as bençãos e a misericórdia de Deus estejam convosco.

Caros irmãos e irmãs de fé e da humanidade, o que acontece com nossos irmãos que dizem acreditar em Jesus (que a paz esteja com ele) e que não levam suas palavras adiante? O que acontece com nossos irmãos muçulmanos que dizem acreditar em Muhammad (صلى الله عليه وسلم)? É uma pena que a hipocrisia seja mais que um dos maiores males de nossa humanidade, mas talvez um câncer generalizado.

A hipocrisia deve ser um dos maiores venenos que pode habitar o coração do homem. Não ter suas ações e fé, crenças e práticas alinhadas deve ser considerado como um desvio de caráter? Não acredito nisso, mas não consigo encontrar oura resposta. Também analiso meu caso e sei que estou longe de fazer exatamente tudo aquilo que professo. Mas não me coloco como alguém superior por ter essa ou aquela fé, nem essa ou aquela prática. Creio que sou melhor naquilo que me diz respeito: em levar minha vida adiante tentando, de algum modo, não prejudicar as outras pessoas. Será possível fazer isso? E até quando?

As pessoas ensinam para seus filhos que devem ter medo do Shaitan, do Satanás, da Mula-sem-cabeça e de outras coisas. Independente do que for para ter medo, parece que qualquer opção é um equívoco, excetuando-se ter medo da hipocrisia. Talvez nossos filhos devessem ser criados com esse medo, com medo de não serem coerentes consigo mesmo. Deus no abençoe e nos guie, pois uma humanidade que está, sem sua maioria, se diapasão, não tem possibilidades de se guiar ou de aceitar que não pode se guiar. Além da hipocrisia, temo aí a pretensão...

segunda-feira, 6 de maio de 2013

Cosmismo - viagem espacial e religião

"Nosso triunfo no espaço é o hino do país soviético."

Que a paz, as benção e a misericórdia de Deus estejam convosco e conosco, do passado até o Dia do Juízo Final.


Não pretendo me prolongar muito, mas simplesmente sugerir o tema do Cosmismo. Se pode ser entendido como um tipo de exoterismo comunista, pouco me importa. A questão é que a leitura do apêndice de Dune, citado no post anterior, me remeteu a procurar um pouco e encontrei uma matéria muito interessante relacionando viagem espacial e religião em The Holy Cosmos: The new religion of space exploration.