quinta-feira, 29 de maio de 2014

(Rumi)

Venha, venha, quem quer que você seja.
Peregrino, idólatra ou fugitivo,
Não importa.
Esta não é a caravana do desespero.
Venha, mesmo que tenha quebrado seus votos
mil vezes.
Venha mais uma vez: venha, venha.

(extraído de http://www.khamush.com/poems.html - tradução de Muhammad F.)

quarta-feira, 28 de maio de 2014

(Rumi)

Morri de mineralidade e tornei-me vegetal;
Da vegetabilidade morri e tornei-me animal.
Morri da animalidade e tornei-me homem.
Assim, por que temer o desaparecer pela morte?
De novo devo morrer
Mas trazendo asas e penas, como um anjo;
Assim, ascenderei mais alto que os anjos.
Aquilo que você não concebe:
Eu serei isto.

(extraído de http://www.khamush.com/poems.html - tradução de Muhammad F.)

terça-feira, 27 de maio de 2014

Poema 14 (Ibn 'Arabi)


Ele viu o relâmpago no Leste, ansiando pelo Leste:
se tivesse brilhado no Oeste, ele teria ansiado pelo Oeste.
O desejo é pelo trovão e seu brilho, não pelos lugares que cai.

O vento Leste me trouxe uma tradição herdada,
de pensamentos distantes,
da minha paixão,
da angústia
de minha aflição,
Do arroubo
da minha razão,
do desejo ardente
da paixão,
das lágrimas,
da minha pálpebra,
do fogo
do meu coração,
De que "Ele que você ama está entre suas costelas; seu respirar O acalenta por cada lado."

Disse para o vento Leste "Leve a minha mensagem a Ele e diga que Ele incendeia em meu coração.
Se deve ser saciado - então eterna união . Se deve queimar - não há culpa para o amante, então!"

(extraído de http://www.ibnarabisociety.org/poetry/ibn-arabi-poetry-index.html - tradução de Muhammad F.)

segunda-feira, 26 de maio de 2014

(Jami)


Tudo no mundo criado é ilusão, fantasia: reflexo em espelhos, sombras.
Mas o Sol da Orientação amanheceu na sombra do "Outro que não Deus": não erre pelo deserto do erro!
Que é o Homem? O reflexo da Luz Eterna.
Que é o mundo? Uma onda no Eterno Mar.
Como o reflexo poderia separar-se da Luz?
Como a onda poderia separar-se do Mar?
Saiba que reflexo e onda são Luz e Mar: aqui a dualidade é duplamente impossível.
Veja os viajantes no Caminho do Amor, veja cada um em seus diferentes estados espirituais:
Um deles vê em cada átomo do mundo um Sol radiante e inextinguível.
Outro testemunha no espelho da existência a beleza dos arquétipos ocultos.
Um terceiro vê o Um no outro, sem véu ou imperfeição.

(extraído de http://www.ibnarabisociety.org/articles/jamiwine.html - tradução de Muhammad F.)

O que é simbolismo? - por Martin Lings (pt. 2)


O próprio Espírito encontra-se aberto à Suprema Fonte de toda luz, tornando-se, para aquele cujo Coração está desperto, uma continuidade entre as Qualidades Divinas e a alma, um raio que passa por Elas do Espírito ao Coração, a partir do qual difunde-se em múltiplas refrações ao longo dos diversos canais da substância psíquica. As virtudes que são deste modo gravadas na alma não são outra coisa senão projeções das Qualidades e, inversamente, cada uma das imagens projetadas estão abençoadas com a intuição de seu Arquétipo Divino. Assim como para a mente, com sua razão, imaginação e memória, uma medida da "luz lunar" que é recebida pelo Coração é passada aos sentidos e os atingem tanto quanto os objetos externos que podem ver e ouvir e sentir; neste contato mais distante, o raio é então invertido, pois as coisas do macrocosmo são reconhecidas como símbolos, isto é, como manifestações semelhantes ao Tesouro Escondido, cada uma delas possuindo sua contraparte no microcosmo. Expresso de outro modo, tudo para o homem primordial, interna ou externamente, era transparente: ao encontrar um símbolo, ele experimentava seu Arquétipo. Ele era, portanto, capaz de se alegrar ao perceber-se exteriormente cercado e interiormente adornado pelas Presenças Divinas.

A ingestão do fruto da árvore proibida foi a conexão com um símbolo tão somente para o bem do próprio Homem, para além de seu significado mais elevado. A violação da norma interrompeu o acesso do Homem ao seu centro interior: a consequente indefinição de sua visão o fez incapaz de cumprir adequadamente sua função original, a de mediador entre o Céu e a Terra. Apesar de sua queda para o microcosmo, o macrocosmo permaneceu elevado; ainda que seus símbolos tenham se tornado menos aparentes para a percepção humana, eles permaneceram em sua perfeição original. Apenas o homem primordial faria justiça a esta perfeição: ao mesmo tempo, ele permaneceria independente dos símbolos, em virtude de ser ele mesmo um símbolo da Essência Divina, que é absolutamente Independente das Qualidades Divinas. O homem decaído, por outro lado, teve uma lição a aprender do grande mundo que o circulava, pois seus símbolos ofereciam uma iluminação que guiariam-no para o caminho de retorno que havia perdido enquanto sua perfeição poderia evidenciar a perfeição de suas contrapartes internas que sofreram com a Queda. As nuvens do macrocosmo não são permanentes; elas surgem apenas para partir, pois as luzenças ainda brilham e as direções do espaço nada perderam de sua imensurabilidade. Entretanto, no homem decaído a alma não é mais uma ampla imagem do Infinito, como foi criada para ser, e o firmamento interno está velado. Este velamento é um resultado crítico da Queda, a qual não interrompeu a conexão entre a alma e o Espírito, entre a percepção humana e os Arquétipos, mas estabeleceu uma barreira que é mais ou menos opaca - cada vez mais opaca com o distanciamento humano do fato original, o que acelera a degeneração gradual que inevitavelmente ocorre com o passar de cada ciclo temporal. No contexto de nosso tema, a barreira pode ser descrita como mais ou menos transparente, uma vez que não teria sentido falar em simbolismo onde não poderia haver ao menos alguma intuição, mesmo que enfraquecida, dos Arquétipos. Ademais, a ciência dos símbolos é inextrincavelmente vinculada com o caminho de retorno, o qual, seguindo no caminho contrário à esta corrente cíclica, realiza um aumento daquela transparência.

(extraído de http://www.reneguenon.net/oinstitutotextosLingsSymbol.html - tradução Muhammad F.)

terça-feira, 20 de maio de 2014

O que é simbolismo? - por Martin Lings (pt. 1)


Os sete céus, a terra, e tudo quanto neles existe glorificam-No. Nada existe que não glorifique os Seus louvores! Porém, não compreendeis as suas glorificações. Sabei que Ele é Tolerante, Indulgentíssimo. (Alcorão 17:44)

O verso anterior é uma resposta à questão que intitulamos este capítulo. Ele também justifica em certa medida, na sua última sentença, o texto deste capítulo, pois o modo como 'algo' glorifica a Deus - e que não entendemos necessariamente - é precisamente seu simbolismo. Isto pode ser deduzido de uma "narrativa sagrada" islâmica, assim denominada porque é a Divindade falando pela língua do Profeta: "Eu era um Tesouro Escondido e amei ser conhecido, então Eu criei o mundo." Assim, o universo e seu conteúdo foram criados de modo a levar ao conhecimento do Criador, sendo que difundir o bom conhecimento é um modo de louvá-Lo. Os modos de fazê-Lo conhecido reflete-O ou mostra Sua sombra, e o símbolo é o reflexo ou a sombra de uma realidade superior.

A doutrina do simbolismos pode também ser indicada de outros versos do Alcorão, nos quais se afirma que cada coisa presente sob a Terra foi enviada em uma medida finita das Provisões ou Tesouros do Infinito, enviada como um empréstimo e não como um presente, pois nada aqui embaixo pode durar, sendo que tudo ao seu final é revertido para a Fonte Suprema. Em outras palavras, o Arquétipo é sempre o Herdeiro que herda de volta o símbolo pelo qual Ele se manifestou. E não existe coisa alguma cujos tesouros não estejam em Nosso poder, e não vo-la enviamos, senão proporcionalmente. (Alcorão 15:21) e Somos Aquele que dá a vida e a morte, e somos o Único Herdeiro de tudo. (Alcorão 15:23). Poderíamos também citar a seguinte definição corânica de Divindade: Ele é o Primeiro e o Último; o Visível e o Invisível, e é Onisciente. (Alcorão 57:3) O primeiro, segundo e quarto destes nomes relacionam-se ao Tesouro Escondido. Assim como o Exteriormente Manifesto, o mistério da Divina Presença no mundo dos símbolos é parcialmente explicado nas palavras [Deus] não criou os céus, a terra e o que existe entre ambos, senão com prudência e por um término prefixado. (Alcorão 30:8) Assim, pode-se dizer que toda a estrutura do universo é tecida de eternidade e de efemeridade, da infinitude e da finitude, do absoluto e do relativo.

O próprio Homem, do modo que foi criado - o Homem Verdadeiro, como o Taoísmo o nomeia - é o maior de todos os símbolos terrestres. A doutrina universal de que ele foi criado à imagem de Deus (Gênesis 1:27) significa esta preeminência: o Homem é o símbolo ou a soma de todos os atributos, isto é, da Natureza Divina em sua Totalidade, a Essência, enquanto as criaturas animadas ou inanimadas que o cercam refletem apenas um aspecto, ou certos aspectos, desta Natureza. Tomados em seu conjunto, estes símbolos constituem o grande mundo exterior, o macrocosmo, do qual o Homem, representante de Deus na Terra, é o centro; e este centro é ele mesmo um pequeno mundo, um microcosmo, análogo em todo aspecto ao macrocosmo, que é, como ele, uma imagem total do Arquétipo.

É através de seu centro que um mundo abre-se para tudo aquilo que o transcende. Para o macrocosmo, o homem é esta abertura; assim como para o microcosmo, seu centro é o Coração humano - não o órgão corpóreo com este nome, mas sua faculdade central da alma a qual, em virtude de sua centralidade, deve ser considerada aquém e além do domínio psíquico. A abertura do Olho do Coração ou o despertar do coração (como muitas tradições se referem) é o que distingue o homem primordial - e, por extensão, o 'Santo' - do homem decaído. O significado desta abertura interna deve ser entendido a partir da relação entre o sol e a lua que simbolizam, respectivamente, o Espírito e o Coração: assim como a lua procura pelo sol e transmite algo de seu brilho refletido para a escuridão da noite, do mesmo modo o Coração transmite a luz do Espírito para a noite da alma.

(extraído de http://www.reneguenon.net/oinstitutotextosLingsSymbol.html - tradução de Muhammad F.)

[trechos do Alcorão extraídos de Os significados dos versículos do Alcorão Sagrado, tradução de Samir El Hayek.]

sexta-feira, 2 de maio de 2014

Integrando o sagrado ao secular

Pesquisas em tradução da literatura Sufi tornaram-se um modo de reintegrar ‘o sagrado com o secular’ no mundo desencantado de hoje. A forma pela qual a literatura Sufi cria e expande os sentidos e a realidade é contemporaneamente ignorada, dada a ênfase pós-estruturalista na cultura, na ideologia e na indeterminação do sentido na língua. Porém, a significação linguística, enquanto atividade “fazedora de sentido”, de conhecimento e entendimento do Transcendental, é uma forma de criar conexões entre diferentes religiões e culturas, validando tais estudos comparativos. Verdade seja dita: seja pesquisador ou acadêmico, tradutores, críticos, historiadores, jornalistas e professores de literatura podem destruir ou criar um escritor em seus próprios termos. A pesquisa adquire o poder do ‘pharmakon’ de Platão, tanto um ‘veneno’ quando um ‘remédio’. O poder investido aos estudiosos em alterar textos e assim mudar o mundo deveria ser mais reconhecido.