terça-feira, 20 de maio de 2014

O que é simbolismo? - por Martin Lings (pt. 1)


Os sete céus, a terra, e tudo quanto neles existe glorificam-No. Nada existe que não glorifique os Seus louvores! Porém, não compreendeis as suas glorificações. Sabei que Ele é Tolerante, Indulgentíssimo. (Alcorão 17:44)

O verso anterior é uma resposta à questão que intitulamos este capítulo. Ele também justifica em certa medida, na sua última sentença, o texto deste capítulo, pois o modo como 'algo' glorifica a Deus - e que não entendemos necessariamente - é precisamente seu simbolismo. Isto pode ser deduzido de uma "narrativa sagrada" islâmica, assim denominada porque é a Divindade falando pela língua do Profeta: "Eu era um Tesouro Escondido e amei ser conhecido, então Eu criei o mundo." Assim, o universo e seu conteúdo foram criados de modo a levar ao conhecimento do Criador, sendo que difundir o bom conhecimento é um modo de louvá-Lo. Os modos de fazê-Lo conhecido reflete-O ou mostra Sua sombra, e o símbolo é o reflexo ou a sombra de uma realidade superior.

A doutrina do simbolismos pode também ser indicada de outros versos do Alcorão, nos quais se afirma que cada coisa presente sob a Terra foi enviada em uma medida finita das Provisões ou Tesouros do Infinito, enviada como um empréstimo e não como um presente, pois nada aqui embaixo pode durar, sendo que tudo ao seu final é revertido para a Fonte Suprema. Em outras palavras, o Arquétipo é sempre o Herdeiro que herda de volta o símbolo pelo qual Ele se manifestou. E não existe coisa alguma cujos tesouros não estejam em Nosso poder, e não vo-la enviamos, senão proporcionalmente. (Alcorão 15:21) e Somos Aquele que dá a vida e a morte, e somos o Único Herdeiro de tudo. (Alcorão 15:23). Poderíamos também citar a seguinte definição corânica de Divindade: Ele é o Primeiro e o Último; o Visível e o Invisível, e é Onisciente. (Alcorão 57:3) O primeiro, segundo e quarto destes nomes relacionam-se ao Tesouro Escondido. Assim como o Exteriormente Manifesto, o mistério da Divina Presença no mundo dos símbolos é parcialmente explicado nas palavras [Deus] não criou os céus, a terra e o que existe entre ambos, senão com prudência e por um término prefixado. (Alcorão 30:8) Assim, pode-se dizer que toda a estrutura do universo é tecida de eternidade e de efemeridade, da infinitude e da finitude, do absoluto e do relativo.

O próprio Homem, do modo que foi criado - o Homem Verdadeiro, como o Taoísmo o nomeia - é o maior de todos os símbolos terrestres. A doutrina universal de que ele foi criado à imagem de Deus (Gênesis 1:27) significa esta preeminência: o Homem é o símbolo ou a soma de todos os atributos, isto é, da Natureza Divina em sua Totalidade, a Essência, enquanto as criaturas animadas ou inanimadas que o cercam refletem apenas um aspecto, ou certos aspectos, desta Natureza. Tomados em seu conjunto, estes símbolos constituem o grande mundo exterior, o macrocosmo, do qual o Homem, representante de Deus na Terra, é o centro; e este centro é ele mesmo um pequeno mundo, um microcosmo, análogo em todo aspecto ao macrocosmo, que é, como ele, uma imagem total do Arquétipo.

É através de seu centro que um mundo abre-se para tudo aquilo que o transcende. Para o macrocosmo, o homem é esta abertura; assim como para o microcosmo, seu centro é o Coração humano - não o órgão corpóreo com este nome, mas sua faculdade central da alma a qual, em virtude de sua centralidade, deve ser considerada aquém e além do domínio psíquico. A abertura do Olho do Coração ou o despertar do coração (como muitas tradições se referem) é o que distingue o homem primordial - e, por extensão, o 'Santo' - do homem decaído. O significado desta abertura interna deve ser entendido a partir da relação entre o sol e a lua que simbolizam, respectivamente, o Espírito e o Coração: assim como a lua procura pelo sol e transmite algo de seu brilho refletido para a escuridão da noite, do mesmo modo o Coração transmite a luz do Espírito para a noite da alma.

(extraído de http://www.reneguenon.net/oinstitutotextosLingsSymbol.html - tradução de Muhammad F.)

[trechos do Alcorão extraídos de Os significados dos versículos do Alcorão Sagrado, tradução de Samir El Hayek.]

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