segunda-feira, 30 de junho de 2014

Presente contra a angústia



Mollâ Sadrâ está entre aqueles que muito bem sabiam que nunca conhecemos senão em proporção ao nosso amor, sendo nosso conhecimento a forma própria do nosso amor. Além disso, tudo aquilo que os indiferentes chamam como "passado" continua "à frente" em proporção ao nosso amor, isto é, o amor é ele próprio a fonte do futuro, uma vez que lhe dá vida. Basta que tenhamos a coragem de amar.

(traduzido de Henry Corbin, En Islam iranien: aspects spirituels et philosophiques 1. Le shi'isme duodécimain, p.37-8, por Muhammad F.)

terça-feira, 3 de junho de 2014

Alguns beijos que desejamos (Rumi)


Existem beijos que desejamos por
toda nossa vida, como o toque do

espírito no corpo. A água do mar
implora à pérola que quebre sua concha.

E o lírio que, apaixonadamente,
precisa de um amante selvagem! Na

noite, abro a janela e peço
à lua para aproximar-se e espremer

sua face contra a minha. Respire dentro
de mim. Feche a porta da língua e

abra a janela do amor. A lua
não usa portas, apenas janelas.

(extraído de http://peacefulrivers.homestead.com/Rumilove.html - tradução de Muhammad F.)

O que é simbolismo? - por Martin Lings (pt. 3)




Se os símbolos do macrocosmo, tomados coletiva ou separadamente, são lembretes para o peregrino espiritual da perfeição perdida pelo Homem, os símbolos mais imediatos serão microcósmicos, isto é, o Verdadeiro Homem ele mesmo, personificado por seus Profetas, Santos e pelo Mestre Espiritual vivo. Embora não haja dúvidas sobre a riqueza da verdade disso, seria uma mera simplificação reduzir os símbolos macrocósmicos a um segundo lugar - em qualquer sentido absoluto - quanto ao seu significado espiritual para o homem, uma vez que muito dependerá do indivíduo que os apreende e de suas circunstâncias. Para além destas alteridades e semelhanças, os símbolos possuem seu próprio impacto especial. O Alcorão afirma a eficácia de ambos: "De pronto lhes mostraremos os Nossos sinais em todas as regiões (da terra), assim como em suas próprias pessoas." (41: 53)

Consideremos, tomando um exemplo particular, a virtude da dignidade, a qual deve ser descrita como a majestade em repouso, e que o homem, se for verdadeiro com sua natureza, procurará aperfeiçoá-la juntamente com outras virtudes que refletem as demais Qualidades Divinas. O cisne incorpora apenas um aspecto da dignidade, mas o faz com perfeição; isolando-se esta perfeição, ela é para o homem uma clara e poderosa impressão, irresistível por ser apresentada em modo não humano, isto é, um modo que está além de nosso alcance. Essa superação fornece-lhe asas que, aos olhos do observador, permitem à dignidade retornar ao seu Arquétipo. O mesmo poderia ser dito de todos os outros grandes símbolos terrestres que não são humanos, como o céu, planícies, oceanos, desertos, montanhas, floretas e rios que englobam - cada uma destas "palavras" sendo eloquentes nas línguas que os membros das raças branca, amarela e preta partilham.

Uma vez que nada possa existir exceto em virtude de seu enraizamento Divino, isto significa que tudo pode ser um símbolo? A resposta é sim e não - sim pela razão dada e não porque "símbolo" significa "sinal" ou "emblema", o que implica em poder operativo de recordar algo, seu Arquétipo. À luz do versículo citado de que nada exite que não seja para O glorificar em louvor, podemos dizer que o que quer que possa ser chamado de símbolo dependerá o quanto este "louvor" é poderoso ou débil. A palavra símbolo é normalmente utilizada para aquilo que é particularmente impressionante na "glorificação".

(extraído de http://www.reneguenon.net/oinstitutotextosLingsSymbol.html - tradução Muhammad F.)


[trechos do Alcorão extraídos de Os significados dos versículos do Alcorão Sagrado, tradução de Samir El Hayek.]

Carta para a Compaixão (Karen Armstrong)


O princípio da compaixão repousa no coração de todas as tradições religiosas, éticas e espirituais, conclamando-nos a sempre tratar os outros do mesmo modo que gostaríamos de sermos tratados. A compaixão nos impele a trabalhar incansavelmente para aliviar o sofrimento de nossos companheiros, a destronarmos a nós mesmos do centro de nosso mundo e colocar o outro neste lugar e a honrarmos a inviolável santidade de todo ser humano, tratando a todos, sem exceção, com absoluta justiça, equidade e respeito.

Também se faz necessário, tanto na vida privada quanto na vida pública, evitar consistente e empaticamente infligir a dor. Agir ou falar violentamente por despeito, chauvinismo ou egoísmo para empobrecer, explorar ou negar direitos básicos para qualquer um, ou incitar o ódio denegrindo os outros - mesmo nossos inimigos -, são modos de negar nossa humanidade em comum. Nós reconhecemos que falhamos em viver de modo compassivo e que inclusive algumas pessoas aumentaram a miséria humana em nome da religião.

Nós, portanto, clamamos a todos os homens e mulheres para restaurarem a compaixão como centro da moralidade e da religião - retornando ao princípio de que qualquer interpretação da escritura que leve à violência, ódio ou desprezo, é ilegítima - garantindo que aos jovens sejam dadas informações precisas e respeitosas sobre outras tradições, religiões e culturas - encorajando uma apreciação positiva da diversidade cultural e religiosa - cultivando uma empatia esclarecida com o sofrimento de todos os seres humanos (mesmo que sejam considerados inimigos).

Precisamos urgentemente fazer da compaixão uma clara, luminosa e dinâmica força em nosso mundo polarizado. Enraizada em uma determinação de princípios que transcende o egoísmo, a compaixão pode demolir as fronteiras políticas, dogmáticas, ideológicas e religiosas. Nascida de nossa profunda interdependência, a compaixão é essencial para as relações humanas e para uma humanidade plena. É o caminho para a iluminação, indispensável para a criação de uma economia justa e uma comunidade global pacífica.

(extraído de http://charterforcompassion.org/the-charter - tradução de Muhammad F.)