quarta-feira, 17 de setembro de 2014

Para Hafiz de Shiraz



Assim disse o Poeta: “Quando a Morte aproximar-se de você,
De todos vós - cujas vidas são areia que se esvai pela ampulheta -
Repousará dois dedos em suas orelhas, outros dois
Sobre seus olhos deitará; um sobre seus lábios,
Sussurrando: ‘Silêncio!’ Embora surda tua orelha,
Teus olhos, meu Hafiz, sofrerão o eclipse do Tempo.
As canções que tu cantastes, todos os homens ouvirão.

Cantos de risos mortais, canções de amor outrora quente,
Músicas de cálices uma vez enrubescidos pelo purpúreo vinho,
Cantos da rosa cuja beleza foi esquecida,
Um rouxinol cujo assobio silencioso é lançado ao divino;
Ainda assim uma música pétrea corre sob
As afetivas notas do amor das canções que são tuas,
Oh!, Buscador das chaves da Vida e Morte!

Enquanto foste cantante, tanto o suave vento do verão
Que sobre o jardim de Mosalla soprava quanto o riacho
De Ruknabad, fluindo junto às rosas retorcidas,
Carregaram tua voz mais distante do que conseguinte sonhar.
A Isfahan e à horda tártara de Baghdad,
Do refugo ao mar, ao Yezd e ao distante Hind;
Sim!, ao ocaso levaram tuas palavras.

Eis que nós rimos, nos esquentamos junto ao fogo do Amor,
Sedentos do, ousamos dizer, escasso vinho que ansiamos,
Levantamos vozes junto ao coro de escuro manto do Pesar.
Cante a alegria da sabedoria e a tristeza que tiveste!
Se minhas pobres rimas algo possuírem do conhecimento do coração,
Grinaldas novas serão tuas para deitar sobre tua sepultura -
Mestre e Poeta, tudo já era teu antes!”

(extraído de HAFIZ. The Garden of Heaven. Translated by Gertrude Bell. New York: Dover Publications, 2003 [1897])

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